06 abril 2015

De volta ao calor ou simplesmente, lar é onde o fofo descansa

Já disse aqui que adoro viajar, não já? Pois, e também já disse que outra das coisas que mais gosto é voltar a casa? Cada vez que vou e volto, sinto-me grata por mais uma experiência vivida, pelas novas descobertas e novas vistas, mas principalmente, por este canto que é meu, pela luz e calor, pelas pessoas, o meu lar.

Dito isto, Praga e Viena são lindas. Duas cidades onde sabe bem andar perdido, de cabeça no ar, literalmente. A beleza arquitectónica é suficiente para provocar torcicolos. Isso e o frio. E a neve. Aquele conflito entre encolher o pescoço para o proteger do vento cortante ou esticá-lo ao máximo para conseguir alcançar com a vista tudo o que nos rodeia. De abdicar da protecção de uma luva para, de alguma forma, tentar imortalizar essas imagens com uma câmara. Voltei constipada, com as mãos maltratadas, com dores em tudo o que é músculo. Mas não teria feito de outra maneira.
Praga ganhou pelas oportunidades que oferece de a ver lá do alto, nas colinas e montes, até ao castelo, uma oferenda divina aos apreciadores de panorâmicas. Viena ganhou nos pormenores. Vista de perto, percebe-se uma maior limpeza e cuidado nos detalhes. Uma cidade mais rica, e desse modo, mais arranjada, melhor "vestida", fachadas limpas e restauradas. Ambas totalmente merecedoras de uma visita. Para os menos tolerantes ao frio (categoria em que este pequeno rato se insere), Junho, Setembro ou Outubro serão certamente uma aposta mais segura.

Podia apenas falar destas generalidades, mas há também os pormenores, ou melhor, as curiosidades e coisas parvas que me ficaram na retina.
A comida, por exemplo. É essencialmente enfarta-brutos. Pode ser do frio. Ou da localização interior. Mas não é para estômagos sensíveis. Carne. Estufados. Molhos fortes e espessos. Pão e mais pão.


E os doces? Muito, muito doces.

As línguas? São propícias a dar um nó na nossa, na tentativa de as pronunciar. Ou levar à destruição dos poucos neurónios que não congelaram nem hibernaram, na tentativa de as compreender. Podem chamar-nos os nomes todos que quiserem e nós ainda sorrimos com ar de parvos. A vantagem é que lhes podemos fazer exactamente o mesmo (não que eu o tenha feito, eeeerrr, quer dizer, não de propósito, ou melhor, foi merecido, bem, vamos mudar de assunto, já disse que levei com muita neve na mioleira?)


E as sanitas em Viena? As minhas desculpas pela introdução, assim do nada, do tema escatológico, mas estão a ver o drama daquelas pessoas que têm aversão a autoclismos? E os outros, os que têm o azar de entrar no wc depois dessas pessoas, e ficam ali a tentar controlar o vómito após a contemplação da obra de arte do utente anterior? Aqui, tal acontecimento pode ganhar proporções dantescas. Senão vejam, fica ali o presente, bem pertinho de vós, em diferentes estados de ressecamento, uma vez que a água só se encontra lá no fundo.
(esta foto não é minha, é um presente da internet, que eu não sou mulher de andar a tirar fotografias a sanitas... pelo menos até ver)

Mas há também um lado triste. Aquela miséria que nunca vivemos, que nem sequer conseguimos imaginar e somos gratos por isso, aqui parece ainda mais pungente. Ao frio e à neve, os que pedem para sobreviver, fazem-no de joelhos, em posição de oração e completa submissão, como se não houvesse limites para o desconforto e humilhação que o ser humano pode aguentar. Uma imagem na retina que ganha o poder de um punho no estômago. Que me fez sentir ainda mais frio.

(esta também não é minha, e apenas partilho pela premissa de uma imagem valer mais que 1000 palavras...)

E pronto, de um modo geral e muito abreviado, foi isto. É bom estar de volta.

2 comentários:

  1. Em relação às linguas, acho que é sempre bom experimentar uma diferente :P

    ResponderEliminar