25 fevereiro 2016

O dia em que fui vingada por um piolho fenómeno

Pela Formiga Fenómeno? Então mas não é Atómica?
Pois, sei lá, depende de quem traduz. Mas eu estou mesmo a falar de um piolho. Fenómeno.

Sempre morri de amores pela ciência mas, no início da minha vida profissional, ela não queria nada comigo. Ou melhor, até queria, mas sem dar nada em troca. E como uma pessoa precisa de dinheiro para viver, enquanto esperava que aquela ingrata reconhecesse o meu valor, trabalhei numa farmácia. Vida ingrata, também. Eu sei, há aqui um padrão, "não és tu, sou eu", mas adiante. Sinto uma profunda admiração por todos os farmacêuticos que trabalham nessa área. Mesmo. As horas infinitas de pé, as trombas e má-educação de muitos utentes, a burocracia envolvida, a falta de confiança e de respeito por quem está ali apenas com o objectivo de ajudar.

Uma das situações simpáticas com que  era brindada com frequência ocorria ao sábado de manhã. Estar ali, quando a vontade era estar na cama ou a aproveitar o dia de descanso, doía. E doía ainda mais quando, já na hora de fechar, a farmácia era invadida por uma legião de ladies que tinham andado no brunch com  as amigas, nas compras e no cabeleireiro. O que é que interessava os nossos horários e a nossa vontade de aproveitar o resto do dia? O que é que nós interessávamos, mesmo? Aliás, nós quem?

Foi assim, precisamente num sábado, que uma loira platinada com um ar muitooo afectado, acabada de sair do cabeleireiro, trunfa fofa e esvoaçante, entrou com a porta já a fechar, e atirou com um ar de desdém e nojo,
"Olheeee, quero qualquer coisa para os piolhos, já! O meu Dinis, c'ó horrrrror, veio com um papel da escola e parece que andam lá umas crianças badalhooocas, e eu até me dá os vómitos só de pensar nissooo! Odeio gente pooorca, e nem pensar que lá em casa entra essa bicheeeza!"
Já eu, fui acenando que sim com a cabeça, de olhos esbugalhados e fixos no super piolho, bem preto e bem visível, que passeava calmamente pelos fios platinados, com textura de algodão doce, da mulher.

21 fevereiro 2016

As coisas que se podem ver numa estação dos comboios

Um casalinho muito jovem chega à plataforma. Ficam ali uns segundos e logo começam aos beijos. Sôfregos. Com muita língua e mexer de cabeça à mistura. Do tipo endoscópico, pautado pela total ausência de pudor que caracteriza aquelas idades.

Apesar dos olhares de reprovação dos restantes passageiros, sinto alguma empatia. As despedidas nunca são fáceis. Eu sei. Mas eis que a sessão de "comes" termina e cada um segue o seu caminho separado... para os respectivos wc's. Aahhh, eeerrr, bem, não deixam de ter alguma razão. Nunca se sabe quando é que uma caganeira se revela fatal. Podia ter sido o último beijo daquelas almas.

Fiquem tranquilos. Não foi. Voltou cada um dos seus afazeres para mais uma fausta refeição na plataforma, de onde seguiram, de mãos dadas, para fora da estação.

17 fevereiro 2016

Quando valores mais altos se levantam

É do conhecimento geral que ciência e religião não combinam muito bem. Têm já uma longa história juntas, é verdade, mas as relações sempre foram difíceis (para dizer o mínimo). Talvez por isso seja tão raro haver misturas. Ou encontrar um cientista que, durante uma palestra, ponha a divindade lá pelo meio. Eu, pelo menos, nunca tinha assistido a isso.

Mas hoje foi o dia. No meio do uom uom uom (podem inserir aqui a voz da professora do Charlie Brown), algo perfura o meu manto de hibernação (muito sono e muito frio, não julguem fáxabor). Um valente thank god. Hã? Espera, what?? Ele disse realmente isto? Disse. E em que contexto? Vamos reboninar.

"We need to use rat models 'cause we don't have enough human's testicular biopsies. THANK GOD"
Palavras acompanhadas pelo ligeiro esgar de dor, seguido do encolhimento e uma mão a descer protectora para a zona em questão. Pois é. Até um cientista se torna religioso com as circunstâncias ou incentivos certos. Ora bolas.

15 fevereiro 2016

E porque ontem foi dia dos namorados...

... "let's talk about sex babyyy, let's talk about you and meee".

Eerrr, não, não era esta. Vamos lá ver, que isto (ainda) é uma casa de respeito. E orgulha-se de prestar serviço público (not), por isso hoje temos uma rubrica ao estilo consultório sentimental. Assim sendo, o tema é "bem piroso e lamechas, como o amor deve ser". Ou não. Decidam vocês. Falo de "dialectos de ternura".

De acordo com uma das muitas pessoas que ganham a vida a resolver os problemas das relações (ou ralações) dos outros, não existe uma linguagem universal do amor, mas sim cinco formas básicas. Imaginem uma espécie de cores primárias, mas para expressar sentimentos. Também defende que muitos problemas surgem quando não se fala a língua que o outro entende. Isto é, a comunicação deve ser adaptada de acordo com o receptor, e não com o emissor. É apenas um exemplo de que nem sempre o que funciona para nós, ou o que gostamos de ouvir, é necessariamente o que funciona para o outro, ou o que ele gosta de ouvir. E o objectivo é dar o melhor, e não o que nós queremos ou pensamos que é melhor (para alguns, pelo menos).

Então, o Dr. Rato Pinga-amor (eu própria, portanto, mas isto na 3ª pessoa soa melhor) apresenta-vos as 5 formas básicas de dizer és a manteiga do meu pão, o recheio das minhas bolachas, a tampa da minha panela, a cobertura do meu bolo, ou qualquer outra metáfora culinária que vos apeteça (seus esfomeados).

(1) Palavras de apreço. Esta é simples, mas não são apenas os "amo-te" ou "adoro-te". São os elogios, o realçar das qualidades, um "és fantástico/a", "especial", "fazes-me sentir feliz", etc, etc, etc.
(2) Prendas. Uns são mais materiais que outros. Nada a fazer. Claro que prendas pode não significar necessariamente dar este mundo e o outro, ou gastar o equivalente ao PIB de um qualquer país. Pode ser apenas e só uma questão do gesto, "ah e tal, vi isto e lembrei-me de ti".
(3) Actos de ajuda. Aqui entram sobretudo as tarefas domésticas. Para aqueles cuja visão de uma cozinha limpa ou de uma pilha de roupa lavada lhes grita amor aos ouvidos.
(4) Toque físico. Outra básica. Abraços, festas, carinhos, massagens, mãos dadas, beijoooos, corpos entrelaçados... e por aí fora, a vossa imaginação pode tratar do resto, que eu cá mantenho o decoro.
(5) Tempo de qualidade. Esta é um bocadinho mais traiçoeira. Talvez porque seja mais difícil de definir, mas de uma forma geral refere-se a momentos de atenção exclusiva. Momentos, hã? Não se está a falar de dias inteiros, isso era apenas esquisito. E neurótico.

Agora, para quem não gosta de rótulos (como eu), não há problema, porque há quem fale várias destas e quem entenda muitas também. Poliglotas, portanto. No meu caso, por exemplo, entendo uma mistura de 1), 4) e 5), mas falo a que for preciso. É verdade, ficam a saber que sou um rato muito adaptável.
Assim, algo como
"you're just to good to be true
can't keep my eyes off you
you'd feel like even to touch
I wanna hold you so much"
chega e sobra para me fazer ver arco-íris e até unicórnios fofinhos a arrotar pequenos corações por todo o lado. Um luxo.


E por aí? Alguém se identifica com alguma em particular? Abram os vossos corações, abram. Mas com cuidado, para não rasgar. Isso seria só nojento, e muito sujo, deixando aqui um banho de sangue e tecidos espalhados. Blharrccc.

10 fevereiro 2016

Dia de loucos

O webmail da empresa decidiu, do nada, tornar-se holandês.
O sistema biométrico divorciou-se do meu dedo e deixou-me na rua, à chuva.
O boss entrou no laboratório a bater palminhas e a falar sozinho.
Um amigo pediu esclarecimentos sobre o pensamento e comportamento das mulheres.

Situações: 4. Explicações: 0

04 fevereiro 2016

Quando dás por ti a agradecer coisas que nunca sonhaste que poderiam merecer a tua gratidão

Como, por exemplo, o facto de não gostares de gastar dinheiro em óculos de sol de marca xpto. Sim, a tua tendência para os esqueceres constantemente em qualquer lado, e mesmo depois de 4 dias, ainda os conseguires recuperar, levam-te a agradecer fervorosamente o facto de seres pelintra (porque até tens vários pares, mas aqueles são OS tais).

Ou também, o facto de ser Inverno (e tu odeias o frio), quando, numa fila (enormeeee) de supermercado, cruzas os braços em ligeiro sinal de impaciência e o teu soutien de apertar à frente, puufftttt! resolve abrir-se. Isso, aliado ao maravilhoso sistema das costas de nadador, origina imediatamente um deslocar irreversível das copas, que passam a fazer volume nas laterais, e eis que agradeces o casacão que disfarça as mamas aparentemente estrábicas com que ficaste.

Obrigada Murphy, por seres apenas mauzinho, em vez de mau como as cobras.