Porque nem só de stress vive o rato e nem só de estudo vive a defesa. Também vive do hábito talar. Mais uma preocupação que fui tratar ontem. Chego e sou atendida."Vamos então ver o traje para a menina". Menina. Comecei logo a nutrir um certo amor pela funcionária, mas as minhas emoções por estes dias não andam de fiar.
Adiante. "Então, o seu número... deixe cá ver... olhe, experimente este". Experimentei. A saia caía pelas pernas abaixo, a batina parecia um saco de batatas. Uuuuu, sexy. "Ai, ó menina, mas este é o número mais pequeno!" Ora bolas, aqui não há secção de criança, estou fo#$&%. Faz sentido, eu sei, tirando alguma sobredotada, não é comum uma criança necessitar de um hábito talar. "Olhe, não se preocupe, nós apertamos um bocadinho aqui, e ali, e também com a capa por cima nem se nota mais nada!"
Alfinetes para trás e para a frente, fico ali eu, em frente ao espelho, firme e hirta numa vã tentativa de não me tornar um coador, quando ela chega com a capa e a coloca nos meus ombros. Arrasta no chão atrás e penso, que bonito, como se não bastasse tudo o resto, ainda tenho uma cauda. E nisto, noto um pormenor. A capa está do avesso. Olho para a funcionária, uma expressão de interrogação a acompanhar o ar infeliz de quem roubou a roupa à mãe, e ela sorri, pisca-me o olho e diz "está do avesso sim, para dar sorte à menina".
Pessoas destas valem ouro.