Entrei numa faixa de aceleração. Daquelas que até começam separadas das restantes por um traço contínuo. E ao meu lado um senhor que não deve ter gostado de me ver aparecer assim. Ou assustou-se. Se calhar foi isso. Assustou-se de tal maneira que as mãos descaíram automaticamente para a buzina.
Segui a minha faixa até ser seguro entrar na principal. Atrás do senhor assustadiço. Que ultrapassei mais à frente já que ele ia a passo de caracol e um bocado aos ziguezagues. Efeitos secundários do susto, certamente.
E quando estou novamente ao lado dele, noto pelo canto do olho um gesticular intenso na minha direcção, acompanhado de uma enorme quantidade de palavras que, obviamente, me era impossível entender.
Muito provavelmente estaria admirado com a minha beleza e a tecer elogios aos meus lindos olhos, por isso respondi-lhe com o meu sorriso mais radiante. Só não lhe mandei nenhum beijinho porque, por mais simpático que fosse, não o conhecia de lado nenhum, e sou recatada nos meus afectos.
Uns metros à frente, mais uns ziguezagues, uma ultrapassagem em duplo traço contínuo, mais uns elogios à minha beleza, desta vez pelo retrovisor.
Fiquei triste por o ver partir. Era clara a vontade de me dar aulas de condução, e pela amostra que me foi apresentada, ia aprender coisas novas que não sabia que se podiam ou deviam fazer.
Shame on me.
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