16 julho 2015

Era uma vez uma lagartixa... era, já não é

Um destes dias, apareceu no laboratório o que carinhosamente chamamos de "erro de casting". Não era murganho, nem wistar, nem drosophila, nem zebrafish, era apenas e só uma pequena lagartixa. Claramente equivocada e bastante desnorteada, criou o pânico para a maioria dos presentes. Entre gritaria e pés em cima das cadeiras, lá vai rato, com muita paciência, tentar levar a bichinha de volta ao seu habitat natural. Uma tarefa que se adivinhava difícil, entre gritos de "mata! mata!" e a desgraçada a fugir para todos os lados, menos para a porta da rua (serventia da casa). Nem pensar em matar o animal, coisinha pequena e frágil, algo confusa, cuja vontade de sair dali devia ser maior ainda do que a vontade de quem a queria ver lá fora. Munida de uma folha de papel apenas, e depois de vários mortais encarpados da desgraçada, lá consegui que saísse para o átrio.

Nisto, surge a empregada da limpeza que, ao observar as minhas tentativas esforçadas (e dignas de pena) de tentar conduzir a bicha, se oferece para a "varrer" e transportá-la confortavelmente na pá que carregava. "Ah, que boa ideia", respondi eu, aliviada e ali fiquei, de olhar embevecido, a ver a senhora já na rua poisar a pá para que a pequena lagartixa saísse finalmente em liberdade. Ainda a sorrir vi o momento em que pousou as patitas no chão. Já a parte em que a funcionária utilizou a mesma pá com que a libertou, para lhe esbordoar a tola sucessivas vezes, vi de olhos esbugalhados e sem tempo de esboçar sequer um ai. Volta ela, toda orgulhosa, e ouvindo-me balbuciar "mas, mas...", responde "não a ia matar cá dentro, não era? já viu a porcaria que eu ia ter de limpar?" Fim da história. Era uma vez uma lagartixa.

20 comentários:

  1. Oh... :(

    Oh... :(

    (Olha, não me sai mais nada)

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    1. Oh, ficaste como eu :(
      (Olha, a mim iam-se saindo uns quantos palavrões e tive de me conter para não destratar a senhora... se ela já me achou tolinha com o meu ar desolado, imagino se ouvisse o que me veio à cabeça)

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    2. Deixa lá, que já uma vez engoli lágrimas, num escritório onde trabalhava, diante do cadáver de um ratinho morto. Se visses o tamanho...

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    3. Olha, agora que carreguei 'publicar', é que vi... Cadáver de um ratinho morto... Estou pior.

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    4. Ahahaha, muito bom! Não estás nada pior, foi um uso consciente do pleonasmo, então não foi? (é essa a figura de estilo, certo? eu às vezes baralho-me um bocado ;))

      Ohhh, ratinhos, ratos e ratazanas, gosto de todos! Se te disser que chorava todos os dias ao sair do laboratório, quando tive de trabalhar com eles... sou uma mole, eu sei.

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    5. Não te baralhas, não. É pleonasmo. ;)
      Obrigada pela delicadeza. Foi um momentinho loiro, mas atire a primeira pedra quem não os tem (ai, brutos!)...

      Se me tivesse calhado esse trabalho a mim, era capaz de andar a calmantes :)

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    6. Aqui há flores, nunca pedras, e claro, muitos momentos loiros da minha pessoa também :)

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  2. A malta do teu laboratório ficou azul ali como a Linda Porca? :P

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    1. Blue como a LP, fiquei eu. A malta do laboratório ficou-se mais por 50 tons de branco.

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    2. 50 shades of grey, ainda acreditava :P

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    3. Jedi! Onde é que te enfiaste? :P

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  3. Eu a pensar num final feliz do género: partiu ao encontro do seu "lagartixo" encantado e viveu feliz para sempre ... e afinal a bicha finou-se logo ali. Hããã, desmancha-prazeres! :P

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    1. Eeerrr, eu não desmanchei nada, a senhora da limpeza com veia de carrasco é que sim! Já tinha avisado no título... o "era uma vez" não era o início da história, mas o fim dela ;)

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    2. Eu quis acreditar que o "Era uma vez uma lagartixa... era, já não é " significava que agora não era uma, mas um par de lagartixas felizes! :P

      Mas tens razão, a empregada é o carrasco desta história!

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    3. Aaaahhhh! Deste-lhe um sentido optimista... foi também o meu naqueles segundos em que a vi de patitas na rua, antes da "realidade" se abater sobre ela.
      Mas sendo positiva também, pela quantidade delas que vejo todos os dias, só pode significar que andam por aqui muitos pares de lagartixas felizes! :p

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  4. Como lagartixa te digo: nunca confiar em humanos!

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    1. Sem dúvida! Neste caso eu também não devia ter confiado...

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