É sempre o primeiro pensamento que me ocorre quando, após um mês parada, regresso aos ensaios. O corpo a ganir, a pedir misericórdia, cãimbras nos pés, dores musculares, aquele momento em que nos arrastamos e pensamos não aguentar mais, enquanto ouvimos "vá, força, é a última". Nunca é. Qualquer bailarino vos diz que esta é a maior mentira que costuma ouvir, seja numa aula ou num ensaio. Aquela não é a última. Depois dessa, quando já nem humanos se sentem, virão mais duas ou três, no mínimo.
Se juntarmos a isso o cair da moeda, aquele tilintar que vos grita que, em menos de um mês estarão novamente num palco, então o desejo é apenas um, enrolarem-se num canto a chorar. É verdade, nunca nutri grande simpatia por actuações. Gosto de tudo o que as rodeia, os ensaios e a camaradagem, mas tenho dificuldades com o nervoso miudinho, as pernas a tremer e a descarga de emoções que se segue. Aquela sensação de fatalidade que se nos apresenta quando tentamos resumir horas e dias de trabalho em poucos minutos. Caso se perguntem, não, isso nunca desaparece, nem quando o fazemos numa base semanal. Mas aprendem-se técnicas, e a frequência reduz o impacto. Parece simples, não é? E até seria, não fosse a frequência nos últimos dois anos ter sido nula.
Nenhuma outra situação provoca tanto conflito no meu sistema fight or flight como esta. Estivesse eu livre das fortes dores musculares e do andar novo que as acompanha, e era ver-me a fugir, de braços no ar. Ou não. Porque sei que, no fundo, a sentir-me melhor ou pior, não tenho feitio para desistir, nem abandonar os que contam comigo. E daqui a umas semanas, ready or not, lá estarei, ansiosa por abraçar a sensação de superação que acompanha o fazer algo que nos assusta. Pronto, está bem, era bonito, mas honestamente, deverei estar mais ansiosa por ouvir a música chegar ao fim. Para aterrar (não literalmente, espero) no momento "pronto, pronto, já passou".
Bolas, já não tenho mesmo idade para isto.
Vai tudo correr! E as dores musculares são umas desgraçadas que nos deixam a parecer que temos 85 anos e meio, mas a sensação de superação vale o "preço a pagar". Força! :)
ResponderEliminarObrigada! Confesso que ontem me sentia para lá de centenária, quer pelas dores no corpo, quer pelo esquecimento que me levava sempre à mesma questão: mas porque é que eu me meto nisto?? ;)
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